Operação prende suspeitos de investir em imóveis da milícia na Muzema, no Rio

Uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do RJ prendeu nesta terça-feira (16) suspeitos de investir na construção de imóveis irregulares da milícia que age na Muzema e em outras localidades da Zona Oeste do Rio.

Há três meses, na Muzema, dois prédios irregulares desmoronaram, matando 24 pessoas. A milícia que os ergueu age ainda em Rio das Pedras, Anil e Gardênia Azul.

Até as 8h30, seis pessoas haviam sido presas – uma delas no Piauí. Outras 11 são procuradas.

Um dos alvos principais é Bruno Cancella. Ele foi preso em casa, na Freguesia, em Jacarepaguá. Segundo as investigações, ele movimentou R$ 24,9 milhões em quatro anos.

A mulher de Bruno, Letícia Champion Ballalai Cancella, também é investigada. Letícia trabalha no setor de IPTU da Prefeitura do Rio e é suspeita de ter facilitado os registros dos imóveis. A Justiça não concedeu a prisão dela.

Bruno Pupe Cancella, um dos presos em operação contra a milícia, chega à Cidade da Polícia — Foto: Reprodução/GloboNewsBruno Pupe Cancella, um dos presos em operação contra a milícia, chega à Cidade da Polícia — Foto: Reprodução/GloboNews

Bruno Pupe Cancella, um dos presos em operação contra a milícia, chega à Cidade da Polícia — Foto: Reprodução/GloboNews

Empresas suspensas

Os 17 mandados de prisão foram expedidos pela 33ª Vara Criminal. A Justiça também deferiu a suspensão cautelar das atividades de duas empresas: a BLX Serviço de Engenharia Ltda e a Manuel Containers Andaimes Rio Eireli – Rio Containers.

PRESOS

  1. Breno Boffelli de Souza, 39 anos; preso no Recreio dos Bandeirantes;
  2. Bruno Pupe Cancella, 38 anos; preso na Freguesia, em Jacarepaguá;
  3. Fernando Vieira de Brito, 46 anos, preso no Piauí;
  4. Leonardo Igrejas Esteves Borges, 40 anos; preso em casa, na Barra da Tijuca;
  5. Manuel Henriques da Silva Júnior, 79 anos; preso em Jacarepaguá;

E um sexto, ainda não identificado.

Ao todo, o MP denunciou 27 pessoas pelos seguintes crimes:

  • Organização criminosa;
  • Ocupação;
  • Loteamento;
  • Construção, venda, locação e financiamento ilegais de imóveis;
  • Ligações clandestinas de água e energia elétrica;
  • Corrupção de agentes públicos.

 Leonardo Igrejas Esteves Borges chega à Cidade da Polícia — Foto: Narayanna Borges/GloboNews Leonardo Igrejas Esteves Borges chega à Cidade da Polícia — Foto: Narayanna Borges/GloboNews

Leonardo Igrejas Esteves Borges chega à Cidade da Polícia — Foto: Narayanna Borges/GloboNews

‘Sócios ocultos’

Em entrevista exclusiva ao G1, o delegado Gabriel Ferrando, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), já havia alertado para a tática dos paramilitares de recorrer a “sócios ocultos”.

“A milícia já vem numa fase, atualmente, de evitar uma exposição e responsabilização e isso gerou com que eles [milicianos] se escondessem cada vez mais, tentando ocultar bens, vender propriedades, tudo para fugir de uma eventual responsabilização criminosa”, explicou.

Ainda segundo Ferrando, a polícia quer identificar as pessoas que proporcionam lucros a esses grupos.

“A ideia é olhar o problema sobre outro enfoque. É verificar quem são essas pessoas que estão associadas à milícia, quem é um sócio oculto, quem viabiliza o financiamento pra organização criminosa.”

O delegado acrescentou que são pessoas que “sequer pensavam que poderiam ser responsabilizadas.”

A tragédia da Muzema

Os imóveis, de cinco andares, ficavam no Condomínio Figueiras do Itanhangá. A Prefeitura do Rio afirmou, à época, que chegou a interditá-los em duas ocasiões

O desmoronamento ocorreu dias depois de uma forte chuva.

Desabamento de prédios na Muzema, no Rio — Foto: AP Photo/Renato SpyrroDesabamento de prédios na Muzema, no Rio — Foto: AP Photo/Renato Spyrro

Desabamento de prédios na Muzema, no Rio — Foto: AP Photo/Renato Spyrro

Dois suspeitos de envolvimento na venda dos apartamentos foram presos, e um está foragido.

  • José Bezerra de Lima, o Zé do Rolo: o homem apontado como construtor dos dois prédios segue foragido. Testemunhas o reconheceram.
  • Renato Siqueira Ribeiro: preso na última sexta-feira (5) em Nova Friburgo, na Região Serrana. Segundo a polícia, ele mudou de residência diversas vezes, já com investigadores em seu rastro.
  • Rafael Gomes da Costa: preso ao se entregar na 14ª DP (Leblon) no dia 18 de maio.

Decretada a prisão dos suspeitos de vender apartamentos dos prédios que desabaram — Foto: Rede GloboDecretada a prisão dos suspeitos de vender apartamentos dos prédios que desabaram — Foto: Rede Globo

Decretada a prisão dos suspeitos de vender apartamentos dos prédios que desabaram — Foto: Rede Globo

Desmonte parou na Justiça

A Prefeitura do Rio determinou a demolição de toda a linha de prédios na rua do desabamento, mas no fim de junho a Justiça mandou parar os trabalhos.

Dois relatórios da Prefeitura do Rio entregues à Justiça depois disso apontavam riscos estruturais e geológicos no condomínio.

Os documentos alertavam para “severos processos erosivos” no terreno e para “vícios e patologias decorrentes de ignorância das normas” na construção.

G1

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