Opolonês Kazimierz Andrzej Wojno desembarcou no Brasil há cerca de quarenta anos para cumprir a vocação ao sacerdócio da Igreja Católica. Aos 71 anos de idade e 46 de batina, tinha como maior realização a construção da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte. E foi justamente na área do templo ao qual se dedicou grande parte da vida onde foi brutalmente assassinado no último sábado (21/09/2019)
Uma das maiores dificuldades iniciais do religioso quando chegou a Brasília era se fazer compreender, devido ao forte sotaque. Para se aproximar da comunidade “aportuguesou” seu nome, tornando-se o padre Casemiro. “No começo, ele tinha problemas com o português. Por isso, celebrava as missas com anotações. Ele tinha dificuldade de falar e nós de entender, mas seguimos em frente. E no final até que ele estava falando muito bem”, conta o paroquiano José Mário dos Santos
A obstinação do
sacerdote era um traço marcante de Casemiro, contam os fiéis. Com a ajuda de doações, principalmente da família na Europa, ele construiu a igreja da 702 Norte com as próprias mãos. “Era o padre engenheiro, o padre peão”, lembrou Santos. Durante a construção do templo, Casemiro não apenas coordenava os trabalhos, como também colocava a mão na massa.
Uma das histórias que o clérigo contava era de que, certa vez, um caminhão foi entregar material de construção. Como ele estava trabalhando, coberto de cimento, o entregador perguntou: “Onde está o padre?”. O sacerdote respondeu: “Está falando com ele”. O homem não acreditou. “Seu peão, diga onde está o padre.” Com toda paciência, Casemiro desceu da obra e esclareceu a situação.
Fotografia
Casemiro também era adepto de tecnologia e um de seus hobbies era fotografar. A família chegou a comprar uma câmera de ponta para ele. Ao receber o presente, sorriu. “Olha o manual da máquina. Parece uma bíblia”, brincou. Logo depois, o equipamento foi furtado da Igreja. O pároco ficou três dias abatido quando soube que o item estava sendo revendido em uma feira.
Segundo os paroquianos, o religioso tinha um perfil duro, mas acolhedor. “Ele sempre foi sério. Andava com sandálias de padre. No último sábado, pela primeira vez, vi que ele celebrou a missa de tênis”, comentou a paroquiana Marlene Barroso.
Segundo a fiel, na última celebração, no sábado, momentos antes de ser assassinado, o pároco fez uma profunda reflexão sobre a falta de segurança. “No final, ele falou muito da preocupação com a violência em nossa cidade, no mundo. Parece que estava prevendo”, desabafou.
A paróquia era muito frequentada por pessoas carentes e moradores de ruas. Casemiro não fazia doações para ajudá-los, mas costumava conversar e oferecer oportunidade de emprego, inclusive na própria obra da Igreja. “Ele era um europeu, duro, mas era querido por todo mundo”, concluiu Tania Maria, ministra da Eucaristia
Front catolico